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Tudo o que você precisa saber sobre o marca-passo diafragmático quadripolar

O primeiro implante de marca-passo diafragmático quadripolar da Bahia foi realizado em uma criança, em 2022, pela cirurgiã Maíra Kalil, do grupo Cirtórax

Aparelho é capaz de estimular o diafragma e imitar a ventilação natural para quem sofre de insuficiência respiratória

Já pensou se sua respiração parasse repentinamente como se seu corpo “esquecesse” que precisa respirar? Agora imagine um marca-passo capaz de estimular o diafragma e imitar a ventilação natural. Isso é possível. No Brasil, existe o registro de menos de dez cirurgias do tipo e Salvador faz parte desse universo: o primeiro implante de marca-passo diafragmático quadripolar da Bahia foi realizado em uma criança, em 2022.

O procedimento conduzido pela médica baiana Maíra Kalil, cirurgiã torácica do grupo Cirtórax, teve participação essencial de Miguel Tedde, cirurgião torácico do Instituto do Coração (InCor) da USP, de profissionais da Finlândia e de São Paulo, que auxiliaram a regulagem eletrônica durante o procedimento, além da equipe multidisciplinar do Hospital Santa Izabel. O procedimento beneficiou um menino portador da síndrome de Loeys-Dietz, doença autossômica rara que provocava problemas respiratórios como apneia central, dificultando sua respiração.

Como funciona o marca-passo diafragmático quadripolar

O marca-passo diafragmático quadripolar mimetiza a ventilação natural da respiração e sua implantação é feita através de um procedimento cirúrgico minimamente invasivo, videoassistido. Neste, os médicos identificam o nervo frênico – que se origina na coluna cervical (C3 a C5) e passa entre o pulmão e o coração para alcançar o diafragma, músculo responsável pela respiração. Em seguida, o marca-passo quadripolar é implantado no nervo de forma bilateral.

Diferentemente do marca-passo cardíaco – que fica completamente dentro da pele -, o marca-passo diafragmático conta com uma parte externa ao corpo, como se fosse um rádio de pilha. Ao contrário do marca-passo cardíaco que libera uma corrente monopolar, onde uma descarga única é dada no nervo, o marca-passo diafragmático quadripolar permite fazer quatro pequenos estímulos sequenciais no nervo frênico, responsável por contrair o diafragma.

São voltagens mínimas capazes de alcançar o impulso necessário para a respiração acontecer. Dessa forma, o marca-passo diafragmático do tipo quadripolar causa menos fadiga muscular durante o estímulo do diafragma, o que permite maior adaptação e maior aceitação do corpo ao aparelho, fazendo com que o paciente responda melhor ao tratamento.

“Isso reduz o índice de infecção respiratória e melhora a mobilidade do paciente, que ganha mais autonomia sem um ventilador conectado o tempo inteiro ao corpo”, explica a cirurgiã torácica Maíra Kalil, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT) e membro executivo do Chest Wall International Group. “Este é um tratamento seguro e bastante promissor para pacientes com insuficiência respiratória”, completa.

Quem pode usar?

O marca-passo diafragmático quadripolar beneficia quadros de insuficiência respiratória muito específicos. A cirurgia é feita em pacientes que são dependentes da ventilação mecânica, mas por doenças que não são pulmonares. A tecnologia é indicada para quem sofre com hipoventilação central: quando o paciente perde a automação da respiração, ou seja, perde a capacidade de respirar automaticamente, como nas síndromes raras ou no caso da lesão de medula que ocorre nos pacientes com trauma raquimedular.

Há indicação de usar o marca-passo diafragmático quadripolar em quem sofre com apneia central, quando uma alteração no sistema nervoso central faz com que o organismo “esqueça” de respirar, assim como quem sofre de tetraplegia. Em ambos os casos é necessário ter o nervo frênico íntegro – já que ali será implantado o marca-passo. Existem testes viáveis para saber se esses pacientes estão aptos a receber o aparelho que substitui o suporte ventilatório e facilita a chegada de ar até os pulmões. É importante que cada paciente seja avaliado por um especialista.

Quem não pode ser beneficiado com o aparelho?

O procedimento tem indicação muito específica, não sendo recomendado para quem tem doença degenerativa ou qualquer tipo de síndrome que leve ao enfraquecimento muscular, assim como não é recomendado para quem não tem o sistema do nervo frênico íntegro.